sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Ligações


Tão Fácil

Amar-te é tão fácil...
Tão fácil como o teu sorriso amigo,
De uma simplicidade sem fim...
Um toque teu e estremeço...
Num beijo renasço...
No teu olhar a liberdade
De um vôo eterno
E de um sonho
Escondido em mim...

Vera Martins

Mar Vermelho


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O tempo

O tempo somente sabe que passa,
Não sabe quem leva, nem quem quer,
Depois de tantas lutas inglórias,
Já não sabe o que tecer.

É aqui que entras tu, para o amparar,
E dia após dia, sob uma maré fria,
Não tens medo de congelar,
Apenas ajudas o tempo a compor o seu lugar.

O teu sorriso vem de uma estrela,
O olhar, vem de um outro cintilar,
O teu movimento é como um vento,
Que tudo irá devastar.

As tuas mãos como pequenos grãos de areia,
Desfazem-se num chocar,
Com as duras rochas negras,
Que procuram um lugar.

Rocha Negra

António Cintra

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Canção

Pus o meu sonho num navio,
E o navio em cima do mar;
- E depois abri o mar com as mãos,
Para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
Do azul das ondas entreabertas,
E a cor que escorre dos meu dedos
Colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
A noite se curva de frio,
Debaixo da água vai morrendo
Meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quando for preciso,
Para fazer com que o mar cresça,
E o meu navio chegue ao fundo,
E o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito:
Praia lisa, águas ordenadas,
Meus olhos secos como pedras
E as minhas duas mãos quebradas.

Cecília Meireles

Cesto

António Cintra

Entrega

Fica aqui entregue uma parte de mim,
O que irás fazer dela, senão estimá-la,
Não te pediria muito mais, nunca mais,
Senão quando o tempo quente voltasse.

Deixo entregue às tuas mãos, o calor,
O que farás dele, senão mantê-lo,
Não quereria muito mais, para não perdê-lo
Senão quando a chuva caísse.

Dá-me então as tuas mãos,
Para que as possa guardar,
Serei cuidadosa, por certo,
É o meu calor que estás a levar.

Dá-me uma parte de ti,
Para que te possa também prezar.
Aceito que deixes em mim,
Tudo o que me quiseres confiar.

Trigal

António Cintra

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

XVL

Não estejas longe de mim um dia que seja, porque,
porque, não sei dizê-lo, é longo o dia,
e estarei à tua espera como nas estações
quando em algum sítio os comboios adormeceram.

Não te afastes uma hora porque então
nessa hora se juntam as gotas da insónia
e talvez o fumo que anda à procura de casa
venha matar ainda o meu coração perdido.

Ai que não se quebre a tua silhueta na areia,
ai que na ausência as tuas palavras não voem:
não te vás por um minuto ò bem-amada,

porque nesse minuto terás ido tão longe
que atravessarei a terra inteira perguntando
se voltarás ou me deixarás morrer.

Pablo Neruda em Cem sonetos de amor

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Hidrovida

António Cintra

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração,
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?

Cecília Meireles

Agarra!

António Cintra

Sempre

Do teu passado
não tenho ciúmes.

Vem com um homem
às costas,
vem com cem homens nos cabelos,
vem com mil homens entre o peito e os pés,
vem como um rio
cheio de afogados,
que encontra o mar furioso,
a espuma eterna, o tempo!

Trá-los a todos
ao lugar onde te espero:
estaremos sempre sós,
estaremos sempre, tu e eu,
sozinhos sobre a terra,
para começar a vida!

Pablo Neruda

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Aceitação

É mais fácil pousar o ouvido nas nuvens
e sentir passar as estrelas
do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos.

É mais fácil, também, debruçar os olhos no oceano
E assistir, lá no fundo, ao nascimento mudo das formas,
que desejar que apareças, criando com o teu simples gesto
o sinal de uma eterna esperança.

Não me interessam mais nem as estrelas, nem as formas do mar,
nem tu.

Desenrolei de dentro do tempo a minha canção:
não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar.

Cecília Meireles

Esvoaçar

António Cintra

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Se...

Se ontem não te conhecia,
Hoje reconheço os teus passos,
Se ontem não te queria,
Agora quero-te nos meus braços!

Se me conseguisses ouvir falar,
Se te pudesse embalar,
Se me fizesse escutar,
Se te levasse o ar!

Se amanhã não te tentar,
E nunca mais te notar,
Se nos tentar enganar,
Farás o tempo parar?

União


António Cintra

Proximidade

Estamos à distância invisível de um corpo,
Estamos ao toque insensível de uma mão,
Estamos no limiar da diferença,
Que separa o meu, do teu coração!

Estamos sem ar à nossa volta,
Porque todos o respiram, menos nós,
Não sentimos movimento em redor,
Porque o afastamos para estar sós!

Com a rapidez de um raio, perco a luz,
Com o derreter da noite, fico assim,
Como um frio que sobe em mim!

Porque começo a perder-te, na rua,
Porque me arrastam além de mim,
E me deixam tão aquém de ti!

Croácia

António Cintra

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Instantes

- Imóvel!

Apenas os olhos se agitam,
Apressam-se na tua direcção,
E logo que te encontram,
Grita um sobressalto no coração.

- Impaciente!

É um bater forte, com clareza,
Mas que se esbate na ausência,
Que se esfuma na incerteza,
De ser uma só delicadeza.

- Em Branco!

Há um capítulo por escrever,
Há tantas folhas para virar,
A tentação de te enredar insiste,
A dúvida agora persiste!

- Será a vez de uma história triste?

Croácia


Maria

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Cecília Meireles

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

S. Valentim


Autor desconhecido

Como um Gato

Há dias, sabes,
em que gostavade ser como o gato
e que me tocasses
sem desejar encontrar
quaisquer sentimentos
a não ser o que se exprime
num espreguiçar muito lento
- um vago agradecimento? -
e que depois me deixasses
deitado no sofá sem que
nada pudesses levar
da minha alma,
pois nem saberias
o que dela roubar.

Pedro Paixão

Gato Ashera

Autor Desconhecido

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Lagos

Autor Desconhecido

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O dia!

Qual será o dia, meu amor?
Em que a coragem te trará para perto,
Em que os teus olhos me beijarão,
E nada mais seja como foi, até então!

À proximidade de um suspiro,
Que teima em revelar-se num sorriso,
Sem palavras, sem gestos, sem sabor,
Qual será o dia meu amor?

Virás uma noite, sob a luz da lua,
Olharás mais uma vez, mas de vez,
E perguntar-me-ás se serei tua.

Será melhor parar o tempo alado?
Qual será o dia meu amor?
Que estaremos lado a lado!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Lagos

Autor Desconhecido