sábado, 29 de setembro de 2007

Valores

Há pessoas que têm,
Um valor único para nós!
Mas seremos todos nós,
O valor único de alguém?

Há aqueles que nos agitam,
Pela simples presença,
Ou somente pela iminência,
De que podem chegar.

Há quem dance,
Na nossa frente, iluminado,
E mesmo assim,
Não o conseguimos ver.

Há quem nos deixe,
Um cheiro, uma cor, ou até um sabor.
Há outros que não nos deixam,
E outros que não queremos deixar.

Existem aqueles que são música,
Enquanto outros não queremos ouvir.
Há aqueles pelos quais esperamos,
E há os que nos fazem desesperar.

Há quem nos toque,
No fundo, com um sopro,
Outros que nos esmagam,
Mas não nos fazem sentir.

Para uns existimos por existir,
Para outros existimos,
Para eles existirem...
E depois, existes tu!

Curiosidade


sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Regras

Nunca voltes ao lugar,
Onde já foste feliz,
Por muito que o coração diga,
Não faças o que ele diz.

Nunca mais voltes à casa,
Onde ardeste de paixão,
Só encontrarás erva rasa,
Por entre as lajes do chão.

Nada do que por lá vires,
Será como no passado,
Não queiras reacender,
Um lume já apagado.

São as regras da sensatez,
Vais sair a dizer que desta é de vez.

Por grande a tentação,
Que te crie a saudade,
Não mates a recordação,
Que lembra a felicidade.

Nunca voltes ao lugar,
Onde o arco-íris se pôs,
Só encontrarás a cinza,
Que dá na garganta nós.

São as regras da sensatez,
Vais sair a dizer que desta é de vez.

Rui Veloso

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Disse-me

Alguém me disse,
A vida é assim,
Anda em frente,
Não olhes para mim,
Eu vou-te apanhar,
Mas continua a correr,
Entre uma passada e outra,
Vais estar a aprender.

Não te vou mentir,
Um dia vais chorar,
Foge se tiveres que fugir,
Continua a sorrir,
Eu vou-te apanhar,
Mas continua a correr,
Entre uma queda e outra,
Vais ter de subir.

Anda para trás se tiver de ser,
Mas evita ficar,
Muito tempo a moer,
O tempo não espera,
Vais ficar a perder,
Eu vou-te apanhar,
Continua a correr,
Entre uma dor e outra,
Vale a pena viver.

Diferenças


Relembrar

Erraste tudo o que podias errar,
Andaste por todos os caminhos,
Que não devias caminhar,
E hoje estás sozinho,
Sem histórias para contar.

Lembro-me quando te amava
E mais nada interessava…
Lembro-me quando te abraçava,
E mais nada interessada…

Disseste tudo o que querias dizer,
Fizeste tudo o querias fazer,
E sem olhares para trás,
Fugiste sem querer saber,
Que me deixavas a sofrer.

Lembro-me quando te chorava,
E mais nada interessava…
Lembro-me quando te odiava
E mais nada interessava…

E hoje quando olho para ti,
Já não me consigo ver,
Já não te consigo amar,
Nem tão pouco odiar,
És só um mais amor para relembrar.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Culto


Inteiro

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és,
No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda,
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis

Breves

Vão breves passando,
os dias que tenho,
depois de passarem,
já não os apanho.

De aqui a tão pouco,
ainda acabou,
vou ser um cadáver,
por quem se rezou.

E entre hoje e esse dia
farei o que fiz:
ser qual quero eu ser,
feliz ou infeliz.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Encantador


Incapaz

Em todo este desejo,
se te desse agora um beijo,
seria para te devorar.
O beijo que te percorreria,
ao teu ouvido diria
ser incapaz de parar...

Em todo este turbilhão,
se te desse agora a mão,
seria para não a largar.
A mão que te percorreria
ao teu corpo diria
ser incapaz de parar...

Apenas nesta vida,
se encontrasse uma saída,
seria para ela caminhar.
O caminho que percorreria,
ao teu coração diria,
Ser capaz de te amar...

Estações


Turbilhão

Confundimos sentimentos.
Atropelamos momentos.
Pensamos pensamentos,
proibidos de pensar.

Trocamos palavras,
deveras ousadas,
em demasia arriscadas,
mas ferozmente devoradas.

Olhares inocentes.
Sorrisos ardentes.
Desejos indecentes.
Medos conscientes.

Procuramos tormentos,
em estrada inacabada.
Caminhamos sedentos,
em busca de nada.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Desculpa

- Peço desculpa,

Pelas vezes que exagerei,
Pelas vezes que pedi,
Pelas vezes que recusei,
Por tudo o que não te dei!

- Peço desculpa

Pelas promessas que quebrei,
Pelos laços que desmanchei,
Pelos nós que desatei,
Por tudo o que te tirei!

- Peço desculpa,

Porque nunca te enganei,
Porque nunca te menti,
Porque nunca te traí,
Porque ainda sinto por ti!

- Peço desculpa

Porque há tempos que estou triste,
Porque há noites sem dormir,
Porque todo este vazio existe,
Porque não me deixa sentir.

Atenção


Espaço

Este espaço entre nós
Não me deixa mentir,
Que queria experimentar,
O que estás a sentir…

Quando olhas para nós,
- Vês o que querias ver?

Quando ouves a nossa voz,
- Ouves o que querias ouvir?

Quando nos vês sorrir.
- Sabes o que estás a sentir?

Este espaço entre nós
Fica por compreender,
Se queria experimentar,
Se te podia entender…

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Caminhos


Perdido

Diz que não me amas, por favor!
São as tuas palavras.
Não desejo o amor de ninguém,
gritam as tuas mágoas.

- não te amo, mas se te amasse seria para sempre!

Diz que não me conheces, por favor!
É a tua sentença.
Não preciso de ninguém,
gritas na tua aparência.

- Não te conheço, mas se te conhecesse nunca te esqueceria!

Diz que me amas, por favor!
É a tua dor.
Não quero ficar sozinho,
quero somente o teu amor.

- Amo-te para sempre, conheço-te como a mim!

Tempo


Soneto

Amor é um fogo que arde sem se ver
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence o vencedor;
é ter, com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode o seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luis Vaz de Camões

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Mas

Pára de uma vez,
não me persigas mais,
se não me queres, faz-me acreditar!

Quero-te.
Desejo-te.
Mas não me enches a alma.
Quero-te, todos os dias.
Desejo-te.
Mas não me trazes mais vida.
Quero-te, sempre.
Desejo-te.
Mas não me fazes lutar.
Quero-te, hoje.
Desejo-te.
Mas não sinto o teu calor.
Quero-te, longe.
Desejo-te.
Mas não me fazes chorar.
Quero-te, agora.
Desejo-te.
Mas não consigo deixar de te amar.

Pára de uma vez.
Não o persigas mais.
Se não o queres, faz-te acreditar!

Postura


Beijo

Não posso deixar que te leve,
o castigo da ausência
vou ficar a esperar e vais ver-me lutar
para que esse mar não me vença.

Não posso pensar que esta noite,
adormeço sozinho,
vou ficar a escrever e talvez vá vencer
o teu longo caminho.

Quero que saibas,
que sem ti não há lua,
nem as árvores crescem,
nem as mãos amanhecem,
entre as sombras da rua.

Leva os meus braços,
esconde-te em mim,
que a dor do silêncio,
contigo eu venço,
num beijo assim.

Não posso deixar de sentir-te,
na memória das mãos,
vou ficar a despir-te e talvez ouça rir-te,
nas paredes, no chão.

Não posso mentir-te que as lágrimas,
são saudades do beijo,
vou ficar mais despido,
que um corpo vencido, perdido em desejo.

Pedro Abrunhosa

Luz


sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Tarde demais

Vejo a escuridão, sinto a solidão!

Uma estrela brilha,
ofusca-me o olhar,
não me deixa ver,
começo a sonhar.

Abro os olhos,
vejo a chuva a cair,
é o céu a chorar,
por mim, não sei,
por alguém.

Quantas mais vezes,
o meu coração vai bater,
as minhas mãos vão tremer,
a minha vontade vai ceder.

Fecho os olhos
adormeço na agitação,
vejo o teu rosto
peço-me perdão!

Companhia...


A uma rapariga

Abre os olhos e encara a vida! A sina
tem de cumprir-se! Alarga os horizontes!
Por sobre lamaçais alteia pontes
com as tuas mãos preciosas de menina.

Nessa estrada da vida que fascina
caminha sempre em frente além dos montes!
Morde os frutos a rir! Bebe nas fontes!
Beija aqueles que a sorte te destina!

Trata por tu a mais longínqua estrela,
cava com as mãos a própria cova
e depois, a sorrir, deita-te nela!

Que as mãos da terra façam, com amor,
da graça do teu corpo, esguia e nova,
surgir à luz a haste de uma flor!

Florbela Espanca

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Deserto


Terra

Terra...

...dos sonhos,
das noites de verão,
das esperanças encontradas,
e tão velozmente perdidas,
das lágrimas mais choradas
mais queridas.

...das noites de luar,
do som embriagante das estrelas,
que dançam no céu,
não do mundo inteiro,
mas meu.

Terra...

...do mar,
do cheiro das saudades,
do aconchego da areia quente,
da noite eloquente,
das casas brancas,
como nos sentimos,
puros, inatingíveis, escravos da euforia,
da inquietante rotina do dia a dia.

Terra...

... do sonho
que queremos sonhar,
quando adormecemos,
cansados de depois nela vaguear,
vadiando.

Partindo-se

Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós meu bem
que nunca tão tristes viste
outros nenhuns, por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos,
cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes, os tristes,
tão fora de esperar bem,
que nunca tão tristes viste,
outros nenhuns por ninguém.

João Ruiz de Castel - Branco

O rosto...


Crepusculario

Já não se encantarão meus olhos em teus olhos,
já não se achará doce minha dor a teu lado.

Mas por onde eu caminhe levarei teu olhar,
e para onde tu fores levarás minha dor.

Fui teu, foste minha. Que mais? Juntos fizemos
um desvio na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás de quem te ame,
do que corte em teu horto aquilo que eu plantei.

Eu me vou. Estou triste: mas eu sempre estou triste.
Eu venho dos teus braços. Não sei por onde vou.

...Desde teu coração diz adeus a um menino
E eu lhe digo adeus.

Pablo Neruda

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Frágil


Noites

Noites de paixão,
pela solidão do teu coração.
Por todo o vazio...
do teu eu.

Noites de loucura,
que são hoje
para ti...
uma tortura.

Noite de agonia,
que te deixou
silenciosamente...
a alma vazia.

Noite de amor, pela qual choraste.

Na vã esperança
de a amares,
que te amasse,
na insensatez de pensares
que alguma coisa,
algum dia...
podia mudar.

Chat noir

Marionnette


Los versos del capitán

Eu te nomeei rainha.
Existem mais altas que tu, mais altas.
Mais puras que tu, mais puras.
Mais belas que tu, mais belas.

Mas tu és a rainha.

Quando vais pelas ruas
ninguém te reconhece.
Ninguém vê a coroa de cristal, ninguém vê
o tapete de ouro vermelho
que pisas onde passas,
o tapete que não existe.

E apenas apareces
cantam todos os rios
em meu corpo, as campanas
estremecem o céu,
e um hino enche o mundo.

Somente tu e eu,
somente tu e eu, amor meu,
o escutamos.

Pablo Neruda

É a vida...


Gota de Água

Eu, quando choro,
não choro eu,
chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas,
mas o choro não é meu.

António Gedeão

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O Nilo...

... visto pela última vez pelos meus olhos!

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra calda
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos nocturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

- e um dia me acabarei.

Cecília Meireles

Benvindos!