quinta-feira, 22 de maio de 2008
Sem-Fim
No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.
Cecília Meireles
equilibra-se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.
Cecília Meireles
LXXXIX
Quando morrer quero as tuas mãos nos meus olhos:
quero que a luz e o trigo das tuas mãos amadas
passem uma vez mais em mim a sua frescura:
que sintam a suavidade que mudou meu destino.
Quero que vivas enquanto eu, dormindo, te espero,
quero que os teus ouvidos continuem a ouvir o vento,
que sintas o perfume do mar que ambos amamos
e continues a pisar a areia que pisamos.
Quero que tudo o que amo continue vivo,
E a ti amei-te e cantei-te sobre todas as coisas,
Por isso fica tu florescendo, florida,
Para que alcances tudo o que este amor te ordena,
Para que esta sombra passei pelos teus cabelos,
Para que assim conheçam a razão do meu canto.
Pablo Neruda
quero que a luz e o trigo das tuas mãos amadas
passem uma vez mais em mim a sua frescura:
que sintam a suavidade que mudou meu destino.
Quero que vivas enquanto eu, dormindo, te espero,
quero que os teus ouvidos continuem a ouvir o vento,
que sintas o perfume do mar que ambos amamos
e continues a pisar a areia que pisamos.
Quero que tudo o que amo continue vivo,
E a ti amei-te e cantei-te sobre todas as coisas,
Por isso fica tu florescendo, florida,
Para que alcances tudo o que este amor te ordena,
Para que esta sombra passei pelos teus cabelos,
Para que assim conheçam a razão do meu canto.
Pablo Neruda
domingo, 18 de maio de 2008
Cativeiro
Quando é que o cativeiro,
Acabará em mim,
E, próprio dianteiro,
Avançarei enfim?
Quando é que me desato
Dos laços que me dei?
Quando serei um facto?
Quando é que me serei?
Quando, ao virar da esquina,
De qualquer dia meu,
Me acharei alma digna,
Da alma que Deus me deu?
Quando é que será quando?
Não sei. E até então,
Viverei perguntando:
Perguntarei em vão.
Fernando Pessoa
Acabará em mim,
E, próprio dianteiro,
Avançarei enfim?
Quando é que me desato
Dos laços que me dei?
Quando serei um facto?
Quando é que me serei?
Quando, ao virar da esquina,
De qualquer dia meu,
Me acharei alma digna,
Da alma que Deus me deu?
Quando é que será quando?
Não sei. E até então,
Viverei perguntando:
Perguntarei em vão.
Fernando Pessoa
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Serenata
Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.
Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.
Cecilia Meireles
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.
Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.
Cecilia Meireles
Montanhas
Se não houvesse montanhas!
Se não houvesse paredes!
Se o sonho tecesse malhas
e os braços colhessem redes!
Se a noite e o dia passassem
como nuvens, sem cadeias,
e os instantes da memória
fossem vento nas areias!
Se não houvesse saudade,
Solidão nem despedida...
Se a vida inteira não fosse,
Além de breve, perdida!
Eu não tinha cavalo de asas,
que morreu sem ter nascido,
E em labirintos se movem,
Os fantasmas que persigo.
Cecília Meireles
Se não houvesse paredes!
Se o sonho tecesse malhas
e os braços colhessem redes!
Se a noite e o dia passassem
como nuvens, sem cadeias,
e os instantes da memória
fossem vento nas areias!
Se não houvesse saudade,
Solidão nem despedida...
Se a vida inteira não fosse,
Além de breve, perdida!
Eu não tinha cavalo de asas,
que morreu sem ter nascido,
E em labirintos se movem,
Os fantasmas que persigo.
Cecília Meireles
domingo, 4 de maio de 2008
O teu nome
Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.
Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante
que todas as estrelas
e mais dolente
que a mansa chuva.
Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranquila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!
Garcia Lorca
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.
Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante
que todas as estrelas
e mais dolente
que a mansa chuva.
Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranquila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!
Garcia Lorca
Há noites
Há noites que são feitas dos meus braços
e um silêncio comum às violetas
e há sete luas que são sete traços
de sete noites que nunca foram feitas.
Há noites que levamos à cintura
como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
duma espada à bainha de um cometa.
Há noites que nos deixam para trás
enrolados no nosso desencanto
e cisnes brancos que só são iguais
à mais longínqua onda de seu canto.
Há noites que nos levam para onde
o fantasma de nós fica mais perto:
e é sempre a nossa voz que nos responde
e só o nosso nome estava certo.
Autor desconhecido
e um silêncio comum às violetas
e há sete luas que são sete traços
de sete noites que nunca foram feitas.
Há noites que levamos à cintura
como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
duma espada à bainha de um cometa.
Há noites que nos deixam para trás
enrolados no nosso desencanto
e cisnes brancos que só são iguais
à mais longínqua onda de seu canto.
Há noites que nos levam para onde
o fantasma de nós fica mais perto:
e é sempre a nossa voz que nos responde
e só o nosso nome estava certo.
Autor desconhecido
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Preparação
Ainda não estou preparado para te perder,
Não estou preparado para que me deixes só.
Ainda não estou preparado para crescer,
E aceitar que é natural
Para reconhecer que tudo tem
Um princípio e tem um final.
Ainda não estou preparado para não te ter,
E somente recordar-te.
Ainda não estou preparado para não poder ouvir-te,
Ou não poder falar-te,
Não estou preparado para que não me abraces,
E para não poder abraçar-te.
Ainda preciso de ti,
E ainda não estou preparado para caminhar
pelo mundo perguntando-me...porque?
Não estou preparado hoje nem nunca estarei.
Pablo Neruda
Não estou preparado para que me deixes só.
Ainda não estou preparado para crescer,
E aceitar que é natural
Para reconhecer que tudo tem
Um princípio e tem um final.
Ainda não estou preparado para não te ter,
E somente recordar-te.
Ainda não estou preparado para não poder ouvir-te,
Ou não poder falar-te,
Não estou preparado para que não me abraces,
E para não poder abraçar-te.
Ainda preciso de ti,
E ainda não estou preparado para caminhar
pelo mundo perguntando-me...porque?
Não estou preparado hoje nem nunca estarei.
Pablo Neruda
terça-feira, 8 de abril de 2008
Sê
Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê,
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol,
Sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso,
Mas sê o melhor no que quer que sejas.
Pablo Neruda
Sê um arbusto no vale mas sê,
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol,
Sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso,
Mas sê o melhor no que quer que sejas.
Pablo Neruda
domingo, 30 de março de 2008
O teu riso
Tira-me o pão,
se quiseres,
tira-me o ar,
mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe o céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosada minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Pablo Neruda
se quiseres,
tira-me o ar,
mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe o céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosada minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Pablo Neruda
Por vezes
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos, E por vezes
Encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos.
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes.
Ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos.
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
David Mourão-Ferreira
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos, E por vezes
Encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos.
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes.
Ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos.
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.
David Mourão-Ferreira
segunda-feira, 17 de março de 2008
Múrmurio
Traz-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traz-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traz-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!
Cecília Meireles
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traz-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traz-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
- Vê que nem te digo - esperança!
- Vê que nem sequer sonho - amor!
Cecília Meireles
Cinco Coisas
Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim,
A segunda é ver o outono,
A terceira é o grave inverno,
Em quarto lugar o verão,
A quinta coisa são teus olhos...
Não quero dormir sem os teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que me continues a olhar.
Pablo Neruda
Primeiro é o amor sem fim,
A segunda é ver o outono,
A terceira é o grave inverno,
Em quarto lugar o verão,
A quinta coisa são teus olhos...
Não quero dormir sem os teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que me continues a olhar.
Pablo Neruda
domingo, 16 de março de 2008
Pescadora de Sonhos
Sou pescadora de sonhos,
E ando pelo mar,
Ocupo um barco velho,
Sempre que vou navegar.
Quando tem a vela rasgada,
Avanço a derivar,
Sempre à procura de um sonho,
Que me queira acompanhar.
Quando o mar está revolto
Fico em terra a desfrutar,
Do cheiro das saudades das ondas,
Em que me deixo embalar.
Quando o mar está calmo,
Fico no barco deitada a sonhar,
A viver e a devorar o sonho,
Que acabei de pescar.
E ando pelo mar,
Ocupo um barco velho,
Sempre que vou navegar.
Quando tem a vela rasgada,
Avanço a derivar,
Sempre à procura de um sonho,
Que me queira acompanhar.
Quando o mar está revolto
Fico em terra a desfrutar,
Do cheiro das saudades das ondas,
Em que me deixo embalar.
Quando o mar está calmo,
Fico no barco deitada a sonhar,
A viver e a devorar o sonho,
Que acabei de pescar.
Existe
Há momentos em que te consigo ver,
É nesses momentos que sinto prazer,
Há momentos que te posso sentir,
E nesses momentos só posso sorrir.
Há dias em que sei és feliz,
E nesses dias sou feliz também,
Há dias em que a sombra não se contém,
E nesses dias tudo se contradiz.
Há horas em que sei falar,
E nessas horas sei o que quero contar,
Há horas em que não me consigo calar,
É nessas horas que tenho medo de me expressar.
Há segundos em que quero duvidar,
E nesses segundos não sei como querer,
Há segundos que procuro entender,
É nesses segundos que me sinto a ceder.
É nesses momentos que sinto prazer,
Há momentos que te posso sentir,
E nesses momentos só posso sorrir.
Há dias em que sei és feliz,
E nesses dias sou feliz também,
Há dias em que a sombra não se contém,
E nesses dias tudo se contradiz.
Há horas em que sei falar,
E nessas horas sei o que quero contar,
Há horas em que não me consigo calar,
É nessas horas que tenho medo de me expressar.
Há segundos em que quero duvidar,
E nesses segundos não sei como querer,
Há segundos que procuro entender,
É nesses segundos que me sinto a ceder.
domingo, 9 de março de 2008
sexta-feira, 7 de março de 2008
Tempo
Nunca é tarde
Uma pessoa que é gente, homem, mulher.
Amar, sonhar, olhar, zangar
Uma outra vez
Largar começar
Contar a quem passar que o
Ontem não interessa recordar
Estranha fruta encontrada no chão de uma casa onde gente
Grande, pequena espera, sabe-se lá,
Talvez vida, outro, não se viu falar,
Tempo, porque?
Olhos na televisão pés na mesa,
Sombras nas sombras, nada e tudo. Mudar...
Tudo tudo tudo
Esperar o tempo
Mostrar
Gente
Renascer e viver
Amar, sonhar, olhar, zangar
Uma, outra vez
Largar...começar
José E. Abreu
Uma pessoa que é gente, homem, mulher.
Amar, sonhar, olhar, zangar
Uma outra vez
Largar começar
Contar a quem passar que o
Ontem não interessa recordar
Estranha fruta encontrada no chão de uma casa onde gente
Grande, pequena espera, sabe-se lá,
Talvez vida, outro, não se viu falar,
Tempo, porque?
Olhos na televisão pés na mesa,
Sombras nas sombras, nada e tudo. Mudar...
Tudo tudo tudo
Esperar o tempo
Mostrar
Gente
Renascer e viver
Amar, sonhar, olhar, zangar
Uma, outra vez
Largar...começar
José E. Abreu
quinta-feira, 6 de março de 2008
Caminho
Marca bem a tua estrada,
Para que a possa seguir,
Traça o meu caminho,
Não me faças desistir.
Sem estradas sinuosas,
Sem descidas vertiginosas,
Sem manobras perigosas,
Sem árvores tenebrosas.
Marca fundo as tuas pegadas,
Para que não as consiga perder,
Por mais alto que a maré suba,
Que nunca deixe de as ver.
Sem pressa de chegar,
Sem lembranças para carregar,
Sem histórias para arrastar,
Apenas tu, a areia e o mar.
Para que a possa seguir,
Traça o meu caminho,
Não me faças desistir.
Sem estradas sinuosas,
Sem descidas vertiginosas,
Sem manobras perigosas,
Sem árvores tenebrosas.
Marca fundo as tuas pegadas,
Para que não as consiga perder,
Por mais alto que a maré suba,
Que nunca deixe de as ver.
Sem pressa de chegar,
Sem lembranças para carregar,
Sem histórias para arrastar,
Apenas tu, a areia e o mar.
quarta-feira, 5 de março de 2008
Mudanças
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões
Nada
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Fernando Pessoa
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Fernando Pessoa
LXXIX
De noite, amada, prende o teu coração ao meu
E que no sono eles dissipem as trevas
Como um duplo tambor combatendo no bosque
Contra o espesso muro das folhas molhadas.
Nocturna travessia, brasa negra do sono
Interceptando o fio das uvas terrestres,
Com a pontualidade de um comboio desvairado
Que sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.
Por isso, amor, prende-me ao movimento puro,
À tenacidade que em teu peito bate
Com as asas de um cisne submerso.
Para que às perguntas do céu
Responda o nosso sono com uma única chave,
Com uma única porta fechada pela sombra.
Pablo Neruda
E que no sono eles dissipem as trevas
Como um duplo tambor combatendo no bosque
Contra o espesso muro das folhas molhadas.
Nocturna travessia, brasa negra do sono
Interceptando o fio das uvas terrestres,
Com a pontualidade de um comboio desvairado
Que sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.
Por isso, amor, prende-me ao movimento puro,
À tenacidade que em teu peito bate
Com as asas de um cisne submerso.
Para que às perguntas do céu
Responda o nosso sono com uma única chave,
Com uma única porta fechada pela sombra.
Pablo Neruda
terça-feira, 4 de março de 2008
Perfeito
Como uma dança, onde a música é a voz,
Convertem-se movimentos leves, subtis, insinuantes,
Onde por vezes rodopiares inconstantes,
Deixam acreditar que quem a comanda somos nós.
De noite à luz das estrelas, de dia ao som do mar,
Dançamos entre raios de sol, oscilamos ao luar,
Tecemos um futuro distante, desejamos um momento,
Que entre contradanças partilhe, em surdina um sentimento.
Flutuando entre sorrisos, com leveza pelo ar,
Tranquilizamos o suspiro que nos faz hesitar,
Sem medo de um salto, que nos leve a quebrar.
E com desvios irrequietos, em forma de aproximação,
Querendo retomar a dança voltamos a dar a mão,
Com um destino incerto, ao ritmo do coração.
Convertem-se movimentos leves, subtis, insinuantes,
Onde por vezes rodopiares inconstantes,
Deixam acreditar que quem a comanda somos nós.
De noite à luz das estrelas, de dia ao som do mar,
Dançamos entre raios de sol, oscilamos ao luar,
Tecemos um futuro distante, desejamos um momento,
Que entre contradanças partilhe, em surdina um sentimento.
Flutuando entre sorrisos, com leveza pelo ar,
Tranquilizamos o suspiro que nos faz hesitar,
Sem medo de um salto, que nos leve a quebrar.
E com desvios irrequietos, em forma de aproximação,
Querendo retomar a dança voltamos a dar a mão,
Com um destino incerto, ao ritmo do coração.
Se tu me esqueces
Quero que saibas
Uma coisa
Tu sabes como é:
Se contemplo a lua de cristal, os ramos rubros
Do Outono lento da minha janela,
Se toco
Ao pé do lume
A implacável cinza
Ou o corpo enrugado da lenha,
Tudo a ti me conduz,
Como se tudo o que existe,
Aroma, luz, metais,
Fossem pequenos barcos que navegam
Em direcção às tuas ilhas que me esperam.
Ora bem,
Se a pouco e pouco deixas de amar-me,
Deixarei de amar-te a pouco e pouco.
Se de repente
Me esqueceres,
Não me procures,
Que já te haverei esquecido.
Se consideras longo e louco
O vento de bandeiras
Que percorre a minha vida
E decidires deixar-me à margem
Do coração em que tenho raízes,
Pensa
Que nesse dia,
Nessa hora,
Levantarei os braços
E as minhas raízes irão
Procurar outra terra.
Mas
Se em cada dia,
Em cada hora,
Sentes que a mim estás destinada
Com doçura implacável.
Se cada dia em teus lábios
Nasce uma flor que me procura,
Aí, meu amor, ai minha,
Todo esse fogo em mim se renova,
Em mim nada se apaga nem se esquece,
O amor do teu amor se nutre, amada,
E enquanto viveres continuará nos teus braços
Sem abandonar os meus.
Pablo Neruda
Uma coisa
Tu sabes como é:
Se contemplo a lua de cristal, os ramos rubros
Do Outono lento da minha janela,
Se toco
Ao pé do lume
A implacável cinza
Ou o corpo enrugado da lenha,
Tudo a ti me conduz,
Como se tudo o que existe,
Aroma, luz, metais,
Fossem pequenos barcos que navegam
Em direcção às tuas ilhas que me esperam.
Ora bem,
Se a pouco e pouco deixas de amar-me,
Deixarei de amar-te a pouco e pouco.
Se de repente
Me esqueceres,
Não me procures,
Que já te haverei esquecido.
Se consideras longo e louco
O vento de bandeiras
Que percorre a minha vida
E decidires deixar-me à margem
Do coração em que tenho raízes,
Pensa
Que nesse dia,
Nessa hora,
Levantarei os braços
E as minhas raízes irão
Procurar outra terra.
Mas
Se em cada dia,
Em cada hora,
Sentes que a mim estás destinada
Com doçura implacável.
Se cada dia em teus lábios
Nasce uma flor que me procura,
Aí, meu amor, ai minha,
Todo esse fogo em mim se renova,
Em mim nada se apaga nem se esquece,
O amor do teu amor se nutre, amada,
E enquanto viveres continuará nos teus braços
Sem abandonar os meus.
Pablo Neruda
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Tão Fácil
Amar-te é tão fácil...
Tão fácil como o teu sorriso amigo,
De uma simplicidade sem fim...
Um toque teu e estremeço...
Num beijo renasço...
No teu olhar a liberdade
De um vôo eterno
E de um sonho
Escondido em mim...
Vera Martins
Tão fácil como o teu sorriso amigo,
De uma simplicidade sem fim...
Um toque teu e estremeço...
Num beijo renasço...
No teu olhar a liberdade
De um vôo eterno
E de um sonho
Escondido em mim...
Vera Martins
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
O tempo
O tempo somente sabe que passa,
Não sabe quem leva, nem quem quer,
Depois de tantas lutas inglórias,
Já não sabe o que tecer.
É aqui que entras tu, para o amparar,
E dia após dia, sob uma maré fria,
Não tens medo de congelar,
Apenas ajudas o tempo a compor o seu lugar.
O teu sorriso vem de uma estrela,
O olhar, vem de um outro cintilar,
O teu movimento é como um vento,
Que tudo irá devastar.
As tuas mãos como pequenos grãos de areia,
Desfazem-se num chocar,
Com as duras rochas negras,
Que procuram um lugar.
Não sabe quem leva, nem quem quer,
Depois de tantas lutas inglórias,
Já não sabe o que tecer.
É aqui que entras tu, para o amparar,
E dia após dia, sob uma maré fria,
Não tens medo de congelar,
Apenas ajudas o tempo a compor o seu lugar.
O teu sorriso vem de uma estrela,
O olhar, vem de um outro cintilar,
O teu movimento é como um vento,
Que tudo irá devastar.
As tuas mãos como pequenos grãos de areia,
Desfazem-se num chocar,
Com as duras rochas negras,
Que procuram um lugar.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Canção
Pus o meu sonho num navio,
E o navio em cima do mar;
- E depois abri o mar com as mãos,
Para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
Do azul das ondas entreabertas,
E a cor que escorre dos meu dedos
Colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
A noite se curva de frio,
Debaixo da água vai morrendo
Meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quando for preciso,
Para fazer com que o mar cresça,
E o meu navio chegue ao fundo,
E o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
Praia lisa, águas ordenadas,
Meus olhos secos como pedras
E as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles
E o navio em cima do mar;
- E depois abri o mar com as mãos,
Para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
Do azul das ondas entreabertas,
E a cor que escorre dos meu dedos
Colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
A noite se curva de frio,
Debaixo da água vai morrendo
Meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quando for preciso,
Para fazer com que o mar cresça,
E o meu navio chegue ao fundo,
E o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
Praia lisa, águas ordenadas,
Meus olhos secos como pedras
E as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles
Entrega
Fica aqui entregue uma parte de mim,
O que irás fazer dela, senão estimá-la,
Não te pediria muito mais, nunca mais,
Senão quando o tempo quente voltasse.
Deixo entregue às tuas mãos, o calor,
O que farás dele, senão mantê-lo,
Não quereria muito mais, para não perdê-lo
Senão quando a chuva caísse.
Dá-me então as tuas mãos,
Para que as possa guardar,
Serei cuidadosa, por certo,
É o meu calor que estás a levar.
Dá-me uma parte de ti,
Para que te possa também prezar.
Aceito que deixes em mim,
Tudo o que me quiseres confiar.
O que irás fazer dela, senão estimá-la,
Não te pediria muito mais, nunca mais,
Senão quando o tempo quente voltasse.
Deixo entregue às tuas mãos, o calor,
O que farás dele, senão mantê-lo,
Não quereria muito mais, para não perdê-lo
Senão quando a chuva caísse.
Dá-me então as tuas mãos,
Para que as possa guardar,
Serei cuidadosa, por certo,
É o meu calor que estás a levar.
Dá-me uma parte de ti,
Para que te possa também prezar.
Aceito que deixes em mim,
Tudo o que me quiseres confiar.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
XVL
Não estejas longe de mim um dia que seja, porque,
porque, não sei dizê-lo, é longo o dia,
e estarei à tua espera como nas estações
quando em algum sítio os comboios adormeceram.
Não te afastes uma hora porque então
nessa hora se juntam as gotas da insónia
e talvez o fumo que anda à procura de casa
venha matar ainda o meu coração perdido.
Ai que não se quebre a tua silhueta na areia,
ai que na ausência as tuas palavras não voem:
não te vás por um minuto ò bem-amada,
porque nesse minuto terás ido tão longe
que atravessarei a terra inteira perguntando
se voltarás ou me deixarás morrer.
Pablo Neruda em Cem sonetos de amor
porque, não sei dizê-lo, é longo o dia,
e estarei à tua espera como nas estações
quando em algum sítio os comboios adormeceram.
Não te afastes uma hora porque então
nessa hora se juntam as gotas da insónia
e talvez o fumo que anda à procura de casa
venha matar ainda o meu coração perdido.
Ai que não se quebre a tua silhueta na areia,
ai que na ausência as tuas palavras não voem:
não te vás por um minuto ò bem-amada,
porque nesse minuto terás ido tão longe
que atravessarei a terra inteira perguntando
se voltarás ou me deixarás morrer.
Pablo Neruda em Cem sonetos de amor
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração,
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração,
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles
Sempre
Do teu passado
não tenho ciúmes.
Vem com um homem
às costas,
vem com cem homens nos cabelos,
vem com mil homens entre o peito e os pés,
vem como um rio
cheio de afogados,
que encontra o mar furioso,
a espuma eterna, o tempo!
Trá-los a todos
ao lugar onde te espero:
estaremos sempre sós,
estaremos sempre, tu e eu,
sozinhos sobre a terra,
para começar a vida!
Pablo Neruda
não tenho ciúmes.
Vem com um homem
às costas,
vem com cem homens nos cabelos,
vem com mil homens entre o peito e os pés,
vem como um rio
cheio de afogados,
que encontra o mar furioso,
a espuma eterna, o tempo!
Trá-los a todos
ao lugar onde te espero:
estaremos sempre sós,
estaremos sempre, tu e eu,
sozinhos sobre a terra,
para começar a vida!
Pablo Neruda
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Aceitação
É mais fácil pousar o ouvido nas nuvens
e sentir passar as estrelas
do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos.
É mais fácil, também, debruçar os olhos no oceano
E assistir, lá no fundo, ao nascimento mudo das formas,
que desejar que apareças, criando com o teu simples gesto
o sinal de uma eterna esperança.
Não me interessam mais nem as estrelas, nem as formas do mar,
nem tu.
Desenrolei de dentro do tempo a minha canção:
não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar.
Cecília Meireles
e sentir passar as estrelas
do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos.
É mais fácil, também, debruçar os olhos no oceano
E assistir, lá no fundo, ao nascimento mudo das formas,
que desejar que apareças, criando com o teu simples gesto
o sinal de uma eterna esperança.
Não me interessam mais nem as estrelas, nem as formas do mar,
nem tu.
Desenrolei de dentro do tempo a minha canção:
não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar.
Cecília Meireles
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Se...
Se ontem não te conhecia,
Hoje reconheço os teus passos,
Se ontem não te queria,
Agora quero-te nos meus braços!
Se me conseguisses ouvir falar,
Se te pudesse embalar,
Se me fizesse escutar,
Se te levasse o ar!
Se amanhã não te tentar,
E nunca mais te notar,
Se nos tentar enganar,
Farás o tempo parar?
Hoje reconheço os teus passos,
Se ontem não te queria,
Agora quero-te nos meus braços!
Se me conseguisses ouvir falar,
Se te pudesse embalar,
Se me fizesse escutar,
Se te levasse o ar!
Se amanhã não te tentar,
E nunca mais te notar,
Se nos tentar enganar,
Farás o tempo parar?
Proximidade
Estamos à distância invisível de um corpo,
Estamos ao toque insensível de uma mão,
Estamos no limiar da diferença,
Que separa o meu, do teu coração!
Estamos sem ar à nossa volta,
Porque todos o respiram, menos nós,
Não sentimos movimento em redor,
Porque o afastamos para estar sós!
Com a rapidez de um raio, perco a luz,
Com o derreter da noite, fico assim,
Como um frio que sobe em mim!
Porque começo a perder-te, na rua,
Porque me arrastam além de mim,
E me deixam tão aquém de ti!
Estamos ao toque insensível de uma mão,
Estamos no limiar da diferença,
Que separa o meu, do teu coração!
Estamos sem ar à nossa volta,
Porque todos o respiram, menos nós,
Não sentimos movimento em redor,
Porque o afastamos para estar sós!
Com a rapidez de um raio, perco a luz,
Com o derreter da noite, fico assim,
Como um frio que sobe em mim!
Porque começo a perder-te, na rua,
Porque me arrastam além de mim,
E me deixam tão aquém de ti!
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Instantes
- Imóvel!
Apenas os olhos se agitam,
Apressam-se na tua direcção,
E logo que te encontram,
Grita um sobressalto no coração.
- Impaciente!
É um bater forte, com clareza,
Mas que se esbate na ausência,
Que se esfuma na incerteza,
De ser uma só delicadeza.
- Em Branco!
Há um capítulo por escrever,
Há tantas folhas para virar,
A tentação de te enredar insiste,
A dúvida agora persiste!
- Será a vez de uma história triste?
Apenas os olhos se agitam,
Apressam-se na tua direcção,
E logo que te encontram,
Grita um sobressalto no coração.
- Impaciente!
É um bater forte, com clareza,
Mas que se esbate na ausência,
Que se esfuma na incerteza,
De ser uma só delicadeza.
- Em Branco!
Há um capítulo por escrever,
Há tantas folhas para virar,
A tentação de te enredar insiste,
A dúvida agora persiste!
- Será a vez de uma história triste?
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Cecília Meireles
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Cecília Meireles
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Como um Gato
Há dias, sabes,
em que gostavade ser como o gato
e que me tocasses
sem desejar encontrar
quaisquer sentimentos
a não ser o que se exprime
num espreguiçar muito lento
- um vago agradecimento? -
e que depois me deixasses
deitado no sofá sem que
nada pudesses levar
da minha alma,
pois nem saberias
o que dela roubar.
Pedro Paixão
em que gostavade ser como o gato
e que me tocasses
sem desejar encontrar
quaisquer sentimentos
a não ser o que se exprime
num espreguiçar muito lento
- um vago agradecimento? -
e que depois me deixasses
deitado no sofá sem que
nada pudesses levar
da minha alma,
pois nem saberias
o que dela roubar.
Pedro Paixão
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
O dia!
Qual será o dia, meu amor?
Em que a coragem te trará para perto,
Em que os teus olhos me beijarão,
E nada mais seja como foi, até então!
À proximidade de um suspiro,
Que teima em revelar-se num sorriso,
Sem palavras, sem gestos, sem sabor,
Qual será o dia meu amor?
Virás uma noite, sob a luz da lua,
Olharás mais uma vez, mas de vez,
E perguntar-me-ás se serei tua.
Será melhor parar o tempo alado?
Qual será o dia meu amor?
Que estaremos lado a lado!
Em que a coragem te trará para perto,
Em que os teus olhos me beijarão,
E nada mais seja como foi, até então!
À proximidade de um suspiro,
Que teima em revelar-se num sorriso,
Sem palavras, sem gestos, sem sabor,
Qual será o dia meu amor?
Virás uma noite, sob a luz da lua,
Olharás mais uma vez, mas de vez,
E perguntar-me-ás se serei tua.
Será melhor parar o tempo alado?
Qual será o dia meu amor?
Que estaremos lado a lado!
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Lugar
Só para mim, dizias;
Na esperança de te ler,
De apagar estas palavras,
Que te faziam morrer.
Onde escondia a verdade,
Onde apagava a tristeza,
Onde encontrava a felicidade,
Mas te arrastava em incertezas.
Neste lugar tão escuro,
Neste lugar tão cheio,
Neste lugar tão puro,
Onde tudo soava tão feio.
Mas neste lugar há amor,
Há luz e há fervor,
Senão o lês, senão o vês,
Sente-o em meu redor!
Na esperança de te ler,
De apagar estas palavras,
Que te faziam morrer.
Onde escondia a verdade,
Onde apagava a tristeza,
Onde encontrava a felicidade,
Mas te arrastava em incertezas.
Neste lugar tão escuro,
Neste lugar tão cheio,
Neste lugar tão puro,
Onde tudo soava tão feio.
Mas neste lugar há amor,
Há luz e há fervor,
Senão o lês, senão o vês,
Sente-o em meu redor!
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Soneto 47
Entre a minha vista e o meu coração estabeleceu-se um acordo,
E agora cada qual faz ao outro um favor:
Quando os meus olhos estão famintos por um olhar
Ou o coração almejando amar com suspiros que ele mesmo abafa;
Com o retrato do meu amor, então a minha visão entra em festa,
E ao banquete esboçado convida o coração:
De outra feita, os meus olhos são o hóspede do coração,
E em seus pensamentos de amor colabora:
Assim, quer seja por teu retrato, ou por meu amor,
Estás mesmo longe, presente sempre ainda comigo:
Pois não estás mais distante que ao alcance dos meus pensamentos,
E eu estou unido com eles, e eles contigo;
Ou se eles dormem, o teu retrato na minha vista
Desperta o meu coração para a alegria da vista e coração.
William Shakespeare
E agora cada qual faz ao outro um favor:
Quando os meus olhos estão famintos por um olhar
Ou o coração almejando amar com suspiros que ele mesmo abafa;
Com o retrato do meu amor, então a minha visão entra em festa,
E ao banquete esboçado convida o coração:
De outra feita, os meus olhos são o hóspede do coração,
E em seus pensamentos de amor colabora:
Assim, quer seja por teu retrato, ou por meu amor,
Estás mesmo longe, presente sempre ainda comigo:
Pois não estás mais distante que ao alcance dos meus pensamentos,
E eu estou unido com eles, e eles contigo;
Ou se eles dormem, o teu retrato na minha vista
Desperta o meu coração para a alegria da vista e coração.
William Shakespeare
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Um Sorriso
Um sorriso, ao de leve,
Basta-me um sorriso de longe,
E sobre um sorrir,
A magia reconstruir!
Procuro-te agora, sempre,
E num instante demente
Vejo-te onde não estás,
Imagino se me conhecerás!
Sobra assim um olhar,
Que paira no ar,
Mas que temo encontrar.
Não sei o que encontrarei,
Sei somente o que vi,
E estava em ti!
Basta-me um sorriso de longe,
E sobre um sorrir,
A magia reconstruir!
Procuro-te agora, sempre,
E num instante demente
Vejo-te onde não estás,
Imagino se me conhecerás!
Sobra assim um olhar,
Que paira no ar,
Mas que temo encontrar.
Não sei o que encontrarei,
Sei somente o que vi,
E estava em ti!
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Soneto a Quatro Mãos
Tudo de amor que existe em mim foi dado,
Tudo que fala em mim de amor foi dito,
Do nada em mim o amor fez o infinito,
Que por muito tornou-me escravizado.
Tão pródigo de amor fiquei coitado,
Tão fácil para amar fiquei proscrito,
Cada voto que fiz ergueu-se em grito,
Contra o meu próprio dar demasiado.
Tenho dado de amor mais que coubesse,
Neste meu pobre coração humano,
Desse eterno amor meu antes não desse.
Pois se por tanto dar me fiz engano,
Melhor fora que desse e recebesse,
Para viver da vida o amor sem dano.
Vinicius de Moraes
Tudo que fala em mim de amor foi dito,
Do nada em mim o amor fez o infinito,
Que por muito tornou-me escravizado.
Tão pródigo de amor fiquei coitado,
Tão fácil para amar fiquei proscrito,
Cada voto que fiz ergueu-se em grito,
Contra o meu próprio dar demasiado.
Tenho dado de amor mais que coubesse,
Neste meu pobre coração humano,
Desse eterno amor meu antes não desse.
Pois se por tanto dar me fiz engano,
Melhor fora que desse e recebesse,
Para viver da vida o amor sem dano.
Vinicius de Moraes
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
Danças!
Soltam-se assim as memórias,
De um tempo, sem tempo,
Quando não sentia desalento,
E o prazer se confortava num momento!
Recordo-me de não contar os dias,
Passavam de leve como queria,
Deixava-me arrebatar sem tento,
Em perfeitos movimentos.
Cada ocasião andava de feição,
Nunca pensei em dar-te a mão,
Entregava-me à tua provocação.
E olhando assim para trás,
Relembrando a nossa dança,
Sei que a vida é mudança!
De um tempo, sem tempo,
Quando não sentia desalento,
E o prazer se confortava num momento!
Recordo-me de não contar os dias,
Passavam de leve como queria,
Deixava-me arrebatar sem tento,
Em perfeitos movimentos.
Cada ocasião andava de feição,
Nunca pensei em dar-te a mão,
Entregava-me à tua provocação.
E olhando assim para trás,
Relembrando a nossa dança,
Sei que a vida é mudança!
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Soneto 35
Não chores mais o erro cometido;
Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho;
O sol no eclipse é sol obscurecido;
Na flor também o insecto faz seu ninho;
Erram todos, eu mesmo errei já tanto,
Que te sobram razões de compensar
Com essas faltas minhas tudo quanto
Não terás tu somente a resgatar;
Os sentidos traíram-te, e meu senso
De parte adversa é mais teu defensor,
Se contra mim te escuso, e me convenço
Na batalha do ódio com o amor:
Vítima e cúmplice do criminoso,
Dou-me ao ladrão amado e amoroso.
William Shakespeare
Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho;
O sol no eclipse é sol obscurecido;
Na flor também o insecto faz seu ninho;
Erram todos, eu mesmo errei já tanto,
Que te sobram razões de compensar
Com essas faltas minhas tudo quanto
Não terás tu somente a resgatar;
Os sentidos traíram-te, e meu senso
De parte adversa é mais teu defensor,
Se contra mim te escuso, e me convenço
Na batalha do ódio com o amor:
Vítima e cúmplice do criminoso,
Dou-me ao ladrão amado e amoroso.
William Shakespeare
Amor em paz
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz!
Vínicius de Moraes
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz!
Vínicius de Moraes
Memória
Quantas vezes, amor, te amei sem te ver e talvez sem me lembrar,
sem reconhecer teu olhar, sem olhar-te, centáurea,
em regiões hostis, num meio-dia ardente:
tu eras só o aroma dos cereais que amo.
Vi-te talvez, imaginei-te ao passar erguendo uma taça
em Angol, à luz da lua de Junho,
ou eras tu a cintura daquela guitarra,
que toquei nas trevas e soou como o mar desmedido.
Amei-te sem o saber, e procurei a tua memória.
Nas casas vazias entrei com a lanterna para roubar o teu retrato.
Mas eu já sabia como eras.
De repente...enquanto ias comigo toquei-te e a minha vida parou:
estavas diante de mim, reinando sobre mim, e ainda reinas.
Como fogueira nos bosques, o fogo é teu reino.
Pablo Neruda
sem reconhecer teu olhar, sem olhar-te, centáurea,
em regiões hostis, num meio-dia ardente:
tu eras só o aroma dos cereais que amo.
Vi-te talvez, imaginei-te ao passar erguendo uma taça
em Angol, à luz da lua de Junho,
ou eras tu a cintura daquela guitarra,
que toquei nas trevas e soou como o mar desmedido.
Amei-te sem o saber, e procurei a tua memória.
Nas casas vazias entrei com a lanterna para roubar o teu retrato.
Mas eu já sabia como eras.
De repente...enquanto ias comigo toquei-te e a minha vida parou:
estavas diante de mim, reinando sobre mim, e ainda reinas.
Como fogueira nos bosques, o fogo é teu reino.
Pablo Neruda
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
Questão?
A paixão que afinal escondes,
Revela-se num sorriso,
Que não consegues evitar,
Que te salta do coração,
Sem que o possas travar.
A amor que ainda te assola,
Revela-se num desprezar,
Que não consegues sentir,
No qual te tentas iludir,
Do qual continuas a fugir.
Será tão errado assim?
Não quereres ainda um fim,
Se te dá força para continuar,
Se te permite continuar a acreditar,
Que na vida ainda há espaço para amar!
Revela-se num sorriso,
Que não consegues evitar,
Que te salta do coração,
Sem que o possas travar.
A amor que ainda te assola,
Revela-se num desprezar,
Que não consegues sentir,
No qual te tentas iludir,
Do qual continuas a fugir.
Será tão errado assim?
Não quereres ainda um fim,
Se te dá força para continuar,
Se te permite continuar a acreditar,
Que na vida ainda há espaço para amar!
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
Mensagem de Ano Novo
Feliz Ano Novo de 2008
Antes de voltar ao formato original do blog, onde acima de tudo se publicam sentimentos em verso, gostaria de desejar um excelente ano novo para todos. Espero sinceramente que todos os vossos projectos tenham sucesso quer pessoais, quer profissionais e que em todos os momentos do ano estejam rodeados de verdadeiros amigos.
Mais força e sorte em especial para aqueles que vão viver experiências mais intensas e que de certa forma terão de mudar a sua vida para sítios até então desconhecidos no planeta!
Felicidades para todos e bom ano!
Antes de voltar ao formato original do blog, onde acima de tudo se publicam sentimentos em verso, gostaria de desejar um excelente ano novo para todos. Espero sinceramente que todos os vossos projectos tenham sucesso quer pessoais, quer profissionais e que em todos os momentos do ano estejam rodeados de verdadeiros amigos.
Mais força e sorte em especial para aqueles que vão viver experiências mais intensas e que de certa forma terão de mudar a sua vida para sítios até então desconhecidos no planeta!
Felicidades para todos e bom ano!
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