Se algum dia por acaso,
Eu voltar a rasgar a tua latitude neste planeta,
Podes abocanhar-me,
Caçar-me com os incisivos balançar-me na boca.
Não aceites as minhas habituais desculpas
De nómada
Nem
Acredites quando te disser que tudo o que tenho
Cabe dentro de uma mala.
Começa por esconder-me os sapatos
Convence-me a destruir os mapas de viagem
E a engolir âncoras pedras uma morada
Com número na porta.
Mesmo que o meu desassossego geográfico
Estremeça a perna direita
Debaixo da mesa e agite o metal dos talheres
Não hesites
Leva-me para tua casa
Prova-me que não tenho de apanhar o último comboio da noite
Que incendeia a costa e que me ajuda
A fugir todas as madrugadas
Recebe-me nas zonas sem roupa
Do teu corpo
Manobra-me a língua
Usa-me
Quando a tua carne já não precisar de mim
Amarra-me
Cuida do meu sono temporário
Obriga-me a dizer-te aquilo que os meus dentes
Sem coração nunca autorizaram:
Esta noite durmo contigo.
Hugo Gonçalves
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