quarta-feira, 5 de março de 2008

LXXIX

De noite, amada, prende o teu coração ao meu
E que no sono eles dissipem as trevas
Como um duplo tambor combatendo no bosque
Contra o espesso muro das folhas molhadas.

Nocturna travessia, brasa negra do sono
Interceptando o fio das uvas terrestres,
Com a pontualidade de um comboio desvairado
Que sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.

Por isso, amor, prende-me ao movimento puro,
À tenacidade que em teu peito bate
Com as asas de um cisne submerso.

Para que às perguntas do céu
Responda o nosso sono com uma única chave,
Com uma única porta fechada pela sombra.

Pablo Neruda

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