quinta-feira, 22 de maio de 2008

LXXXIX

Quando morrer quero as tuas mãos nos meus olhos:
quero que a luz e o trigo das tuas mãos amadas
passem uma vez mais em mim a sua frescura:
que sintam a suavidade que mudou meu destino.

Quero que vivas enquanto eu, dormindo, te espero,
quero que os teus ouvidos continuem a ouvir o vento,
que sintas o perfume do mar que ambos amamos
e continues a pisar a areia que pisamos.

Quero que tudo o que amo continue vivo,
E a ti amei-te e cantei-te sobre todas as coisas,
Por isso fica tu florescendo, florida,

Para que alcances tudo o que este amor te ordena,
Para que esta sombra passei pelos teus cabelos,
Para que assim conheçam a razão do meu canto.

Pablo Neruda

Sem comentários: